Por Profa Laís Cristina Almeida, Ft, Psic, MSc, ESP, DO MRO Br
A literatura define Síndromes Cervicais como sendo doenças que provocam sintomas e sinais cefálicos cuja causa se encontra na coluna cervical. As artérias vertebrais, o Sistema Nervoso Simpático Cervical (SNSC) e os proprioceptores são estruturas da região cervical que podem provocar vertigens ou outros sintomas quando apresentam disfunções.
Também denominada Síndrome de Barré-Lieou ou da Artéria Vertebral, é capaz de originar distúrbios vasculares anômalos com repercussão para os labirintos. Foi primeiramente evidenciada por Barré e Lieou em 1928. Eles descreveram uma cervicoartrose como lesão primitiva, especificamente uma discopatia de C5-C6 ou C6-C7. Relataram que a uncodiscoartrose estimula o SNSC que envolve as artérias vertebrais provocando uma vasoconstrição das mesmas e reduzindo assim o fluxo sanguíneo no território Vértebro-Basilar. Sendo, portanto, de grande relevância uma imagem da coluna para verificar a existência de hérnias discais e de uncodiscoartose.
Um outro estudo cita que artrose cervical provoca perturbações do simpático gerando modificações vasomotoras ao nível da artéria vertebral e seus ramos.
A SSCP é comum entre os 50 e 60 anos e desenvolve-se lentamente com manifestações intermitentes, cuja causa tem sido atribuída à afecções da coluna cervical, podendo provocar isquemia na região de distribuição da artéria vertebral. A artéria auditiva interna é uma artéria terminal que depende do plexo que circunda a artéria vertebral e suas ramificações. Esse plexo procede da cadeia simpático-torácica e do gânglio cervical inferior. Assim, perturbações vasomotoras da artéria vertebral podem produzir modificações funcionais no VIII par craniano (vestibulococlear, puramente sensitivo) assim como de seus correspondentes centros bulbares. A esse sistema arterial junta-se um simpático perivascular oriundo dos plexos vertebral e carotídeo interno que possui uma ação vasomotora sobre o aparelho vestibular.
Outro autor ao estudar vertigens com transtornos do equilíbrio refere-se à artrose cervical como capaz de determinar variações no equilíbrio vasomotor do labirinto, seja por ação direta sobre o simpático cervical, seja por compressão da artéria vertebral.
Wang (2013), Hi e Cols (2014) encontraram fibras pós-ganglionares simpáticas distribuídas no ligamento longitudinal posterior e discos. As degenerações discais levariam a estimulação do SNS. Esses últimos trabalhos trazem evidência da síndrome de Barrè e Lieou após 60 anos. (apud Bottino, 1999)
Esta síndrome apresenta sintomas vestibulares, neurológicos e dolorosos.
Define-se pela redução do fluxo sanguíneo no território irrigado pelas artérias vertebrais e basilar. Esse fluxo sanguíneo pode ser diminuído por diversas causas, principalmente a aterosclerose.
Foi demonstrado que a rotação da cabeça para um lado diminui o fluxo da artéria vertebral oposta pelo estiramento que ela sofre ao contornar o atlas. No entanto, se houver placas de ateroma a redução é maior. Outros autores citaram que as vertigens, os nistagmos e os zumbidos são provocados por perturbações isquêmicas no labirinto. Outras causas como os aneurismas e as anomalias congênitas alteram essa circulação, assim como a estenose das artérias vertebrais e basilar.
Também afirmaram que existe um quadro clínico típico característico de IVB em pacientes com mais de 50 anos chamada Drop-Attack. Eles apresentam tonturas que vão desde desequilíbrios leves a quedas bruscas. Ao rodarem a cabeça, caem sobre os joelhos sem perda dos sentidos, bem como alterações visuais que vão de diplopias a perdas transitórias da visão. Quando o comprometimento é maior o paciente pode apresentar disartria. Tonturas ou desequilíbrios acompanhados de alterações visuais são evocadores de IVB.
Define-se síndrome cervical proprioceptiva aquela em que o paciente tem desequilíbrio e instabilidade relacionados com os movimentos e posição da cabeça, acompanhados por dor e contratura da musculatura da cervical.
Para Treleaven (2008) a musculatura intervertebral da coluna cervical possui alta densidade de receptores que atuam no controle da postura. Os receptores aferentes cervicais são responsáveis pelos reflexos cérvico-ocular, cervico-espinal, cervical-cólico que estão ligados com os reflexos vestibulares e possuem papel de estabilizarem a cabeça, os olhos e a postura.
Vários trabalhos demonstraram que as dores e as tensões cervicais geram estímulos proprioceptivos anômalos que conflitam com os vestibulares provocando desorientação, desequilíbrios e tonturas.
A disfunção proprioceptiva da coluna cervical pode ser causada por whiplash, artrites, artroses, posições antálgicas (devido a hérnias discais), posturas inadequadas no trabalho (costureiras, digitadores), exercícios inadequados.
Diagnóstico de vertigem cervical: tonturas reproduzíveis com a movimentação do pescoço e dor a essa movimentação; limitação da rotação cervical; dores no pescoço irradiadas para região têmporo-parietal e presentes à palpação; reprodução das tonturas palpando-se a região suboccipital, nos processos transversos C1 e C2 e processos espinhosos C2 e C3.
Yacovno e Hain (2013) observaram que tensões cervicais e dor são achados frequentes nas enxaquecas.
Relataram que conexões entre os núcleos vestibulares e o núcleo caudal do trigêmeo seriam mecanismos no qual os sinais vestibulares influenciariam a via muscular do trigêmeo nas enxaquecas. Então a ativação do trigêmeo provocaria um aumento da sensibilização da resposta a um estímulo que não causaria dor. Esse aumento da sensibilização levaria a uma hiperalgesia cervical através de mecanismo central.
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